De Coronel a Guardião: O Valor da Vida e o Orgulho de Ser Bombeiro

Hoje, meu peito carrega saudade — e orgulho. Já não estou mais no serviço ativo do Corpo de Bombeiros Militar, essa instituição centenária que moldou minha vida, forjou meu caráter e da qual tanto me orgulho. Vesti sua farda por 31 anos, com honra, suor e lágrimas. No dia 26 de novembro de 2024, encerrei um ciclo e passei a integrar o seleto grupo da reserva, coroando minha trajetória com o posto de coronel — o último degrau da carreira, mas o primeiro de uma nova etapa da vida.
Deixei a farda, mas ela nunca me deixou. A essência do bombeiro permanece em mim — o olhar atento, o coração que pulsa diante da dor alheia, a mente treinada para agir no caos. Esses valores continuam a me guiar, mesmo longe das sirenes e das madrugadas de emergência. Observar acontecimentos como o da jovem Juliana Marins, brasileira que caiu em um vulcão na Indonésia, me faz refletir com profundo pesar — e esperança.
Quatro dias de buscas. Quinze horas de resgate. Tempo demais para quem clama por socorro. Ao acompanhar essa tragédia, meu coração se apertou, e me peguei pensando: se essa jovem estivesse em terras capixabas, talvez o desfecho fosse outro. Talvez tivéssemos chegado a tempo de trazer a vida de volta. Ou, ao menos, de oferecer à família a paz que só a certeza pode proporcionar. Mas eu também me lembro: nem sempre foi assim.
No início da década de 90, nós, bombeiros do Espírito Santo, enfrentávamos batalhas não apenas contra o fogo e os desastres, mas contra a escassez e o abandono. Viaturas sucateadas, treinamentos limitados, estruturas precárias. Muitas vezes, o que nos movia era apenas a coragem e a fé de que estávamos fazendo a diferença, mesmo com tão pouco. Era como lutar com as mãos nuas contra a tempestade.
Mas algo mudou. E mudou porque acreditamos que o povo capixaba merecia mais. A partir de 1997, iniciamos um movimento silencioso, porém poderoso: o planejamento estratégico. A ideia de projetar a instituição não apenas para o presente, mas para os próximos 10, 20, 30 anos. Cada decisão tomada passou a carregar o compromisso com o futuro, com a vida, com a esperança.
Hoje, o Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo é motivo de orgulho e confiança. Homens e mulheres treinados com excelência, equipados com tecnologia de ponta, dispostos a enfrentar o impossível para salvar vidas. Sabemos que podemos fazer a diferença — e fazemos. Não por glória. Mas por amor.
Que o Espírito Santo sirva de exemplo. Que a dor da família de Juliana Marins nunca mais precise ser sentida por outras famílias. Que a lição deixada por essa tragédia ecoe forte nos corações de gestores e líderes pelo mundo. Porque não há maior missão do que cuidar da vida. E não há maior honra do que ser bombeiro.

31 anos de serviço público. Ex-comandante dos Bombeiros em diversas cidades do ES, ex-secretário de Defesa Civil, perito em emergências e gestor público. Criador do projeto Mãe Prevenida, que já capacitou mais de 42 mil mães. Cristão, conservador e defensor da liberdade de expressão.