A Ilusão do Empreendedorismo Universal e a Necessidade da Valorização da Mão de Obra

A Ilusão do Empreendedorismo Universal e a Necessidade da Valorização da Mão de Obra

Por Mariana Porto

Nos últimos anos, as redes sociais popularizaram a ideia de que o único caminho para o sucesso é empreender. Gurus do marketing digital, influenciadores de finanças e cases de sucesso de startups impõem um discurso quase obrigatório: se você não está criando seu próprio negócio, está fadado ao fracasso.

No entanto, essa narrativa desconsidera uma questão fundamental: e se todos empreenderem, quem realizará as funções essenciais para o funcionamento da sociedade?

O Cenário Atual da Juventude no Brasil

Segundo o Censo 2022 do IBGE, o Brasil possui uma população total de 203 milhões de habitantes, dos quais aproximadamente 34% são jovens entre 15 e 29 anos.

A desigualdade social continua sendo um fator determinante na trajetória desses jovens: enquanto alguns têm acesso à educação de qualidade e oportunidades de carreira, outros enfrentam desafios significativos, como falta de qualificação profissional e dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

A crescente digitalização da economia trouxe uma nova dinâmica para a juventude. Enquanto alguns jovens buscam empreender motivados por promessas de liberdade financeira, outros, diante da falta de perspectivas de ascensão profissional, acabam se afastando do mercado de trabalho formal. Isso cria dois grupos preocupantes: os que acreditam que apenas o empreendedorismo vale a pena e os que, diante das dificuldades, desistem de se inserir no mercado.

A Ilusão do Empreendedorismo para Todos

Empreender é, sem dúvida, uma opção válida e desejável para alguns. No entanto, transformar o empreendedorismo em uma obrigação social ignora a importância da mão de obra trabalhista. Quem preparará o pão na padaria? Quem cortará a carne no açougue? Quem embalará as compras no supermercado? O discurso da independência financeira por meio do empreendedorismo não apenas desvaloriza o trabalho formal, mas também contribui para uma crise de empregabilidade, na qual os jovens deixam de ver valor nos empregos tradicionais.

A consequência dessa mentalidade é a precarização do mercado de trabalho. Se todos aspiram ser empresários, quem estará disposto a ocupar funções essenciais? Isso não significa que os trabalhadores não possam crescer profissionalmente, mas sim que a valorização das carreiras formais deve ser uma prioridade para empresas e instituições.

“Embora o empreendedorismo seja uma excelente opção para muitos, é fundamental lembrarmos que o trabalho formal também tem seu valor e papel essencial na nossa sociedade. O mercado precisa de profissionais qualificados para funções cruciais, como na padaria, no açougue, no supermercado, entre tantas outras áreas.

A verdadeira transformação vem quando conseguimos equilibrar as duas vertentes: apoiar os que desejam empreender, mas também fortalecer as carreiras formais, garantindo um mercado de trabalho mais saudável e com oportunidades para todos. O futuro do trabalho passa por uma valorização mútua de ambas as opções.”

Estratégias para o Desenvolvimento Profissional
Para mudar esse cenário, é essencial que empresas e instituições adotem estratégias de valorização da mão de obra. Algumas iniciativas incluem:

1.Plano de Carreira Estruturado
Empresas devem oferecer trilhas de crescimento claras para os funcionários, mostrando que é possível evoluir na carreira mesmo começando em cargos operacionais.

2.Qualificação Profissional
Investir em cursos, treinamentos e certificações aumenta a empregabilidade e a autoestima do trabalhador, permitindo que ele veja valor em seu ofício.

3.Programas de Mentoria
Líderes dentro das empresas devem orientar jovens talentos, ajudando-os a enxergar novas oportunidades dentro da organização.

4.Valorização Financeira e Benefícios
Salários competitivos e benefícios como plano de saúde, auxílio-educação e participação nos lucros são fundamentais para manter funcionários engajados e satisfeitos.

O futuro do trabalho não pode ser pautado apenas pelo empreendedorismo. Para que a sociedade funcione de forma equilibrada, é necessário valorizar todas as profissões e proporcionar oportunidades reais de crescimento para aqueles que optam pelo caminho do emprego formal.

Empresas, governos e instituições de ensino precisam se unir para resgatar a importância das carreiras tradicionais, garantindo que os jovens vejam no mercado de trabalho uma oportunidade de crescimento e não apenas uma obrigação passageira. O empreendedorismo é um caminho, mas não pode ser o único.